lunedì

:: Tudo...


...Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer,

tudo gasta, tudo digere, tudo acaba...

São as feições como as vidas,

que não há mais certo sinal de haverem

de durar pouco, que terem durado muito.

São como as linhas, que partem do centro para a circunferência,

que quanto mais continuadas, tanto menos unidas.

Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino;

porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho.

De todos os instrumentos com que o armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira;

embota-lhe as setas, com que já não fere;

abre-lhe os olhos com que vê o que não via;

e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge.

A razão natural de toda esta diferença

é porque o tempo tira novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos,

enfastia-lhe o gosto, e bastam que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor?!

O mesmo amar é causa de não amar

e o ter amado muito, de amar menos...


António Vieira, Sermão do Mandato, 1643

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domenica

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:: Amigo...




Mal nos conhecemos


Inauguramos a palavra amigo!


Amigo é um sorriso


De boca em boca,


Um olhar bem limpo


Uma casa, mesmo modesta,


que se oferece.


Um coração pronto a pulsar




Na nossa mão!


Amigo (recordam-se, vocês aí,Escrupulosos detritos?)


Amigo é o contrário de inimigo!


Amigo é o erro corrigido,


Não o erro perseguido, explorado.


É a verdade partilhada, praticada.


Amigo é a solidão derrotada!


Amigo é uma grande tarefa,


Um trabalho sem fim,


Um espaço útil, um tempo fértil,


Amigo vai ser,


é já uma grande festa!


Alexandre O'Neil


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giovedì

:: Amo...













Tal vez consumirá a luz de Janeiro,



seu raio cruel meu coração inteiro,



roubando-me a chave do sossego,



nesta história só eu me morro,



e morrerei de amor porque te quero,



porque te quero amor,



a sangue e fogo.
Nega-me o pão,



o ar,a luz, a primavera,



mas nunca o teu riso,



porque então morreria.
Os teus pés



Quando não te posso contemplar



Contemplo os teus pés.



Teus pés de osso arqueado,



Teus pequenos pés duros,



Eu sei que te sustentam



E que teu doce peso



Sobre eles se ergue.



Tua cintura e teus seios,



A duplicada purpura



Dos teus mamilos,



A caixa dos teus olhos



Que há pouco levantaram voo,



A larga boca de fruta,



Tua rubra cabeleira,



Pequena torre minha.



Mas se amo os teus pés



É só porque andaram



Sobre a terra e sobre



O vento e sobre a água,



Até me encontrarem.
Pablo Neruda

domenica

:: Lágrimas... Sofridas Muitas...



Lágrimas que tenho chorado a vida inteira,
Às vezes na emoção da alegria incontida,
Lágrimas que jorram da alma incompreendida
Daqueles que têm a dor por companheira.
Lágrimas que tanto marcam as nossas vidas...
Lágrimas de felicidade ou de dor pungente...
Quantas vezes derramei o pranto ardente
Na dor dos adeuses na hora das despedidas.
Lágrimas que lavam a alma de quem chora,
Lágrimas que em minha dor derramo agora,
Oh! Quem dera estas fossem as derradeiras...
Feliz aquele que a sua lágrima derrama...
A lágrima é o símbolo da redenção humana,
Jesus também chorou no Horto das Oliveiras...
Agenor

lunedì

:: Criança que fui...







A criança que fui chora na estrada

A criança que fui chora na estrada.



Deixei-a ali quando vim ser quem sou;



Mas hoje, vendo que o que sou é nada,



Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo?



Quem errou



A vinda tem a regressão errada.



Já não sei de onde vim nem onde estou.



De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar



Um alto monte, de onde possa enfim



O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,



E, ao ver-me tal qual fui ao longe,



achar



Em mim um pouco de quando era assim.
Fernando Pessoa

mercoledì

:: No silêncio da Noite...



No silêncio da noite...
No silêncio desta noite quente
(que neste caso está imensamente fria)
Procuro-te num desejo ardente
Preciso sentir-te e dizer-te
Que quero muito ver-te
No silêncio desta noite de luar
Fecho os olhos e fico a pensar
Que tens o sabor do sol e do vento
Que fixas meu olhar ciumento
No silêncio desta noite de emoção
Quero que venhas sentir o meu coração
Batendo forte, ansiando pelo teu
Preciso que também anseies pelo meu
No silêncio desta noite sem fim
Larga tudo e corre até mim
Faz-me sentir o sabor da paixão
Rasgando meu sentimento de solidão
No silêncio desta noite ensurdecedora
Ouço mais do que outrora
Ouço minhas forças e fraquezas
Ouço alegrias e tristezas
No silencio desta noite sem amor
Vou ficar enrolado no cobertor
Esperando por quem não vem
Dando o sono a quem não tem
música: "You Give Me Something"
- James Morrison


:: Baloicando...

Clique e baloice com ele... (Anjo)

lunedì

:: Calvin Hollyood...


:: Jezibelle Woodpecker...























:: Quase


QUASE. UMA NATUREZA MORTA
Um braço de rio que se solta da margem os ramos

prolongam, na água, a nostalgia de terra.
A pureza
da luz não atravessa a superfície para se perder
num fundo que não se adivinha (ali, onde a corrente
faz saltar as espumas do centro, ninguém se aventura
- mesmo que as pedras separem o curso branco
das águas)
Que é isto?, perguntas. A parábola
capital a tua vida cortada ao meio, como se não
houvesse uma direcção única a prosseguir até ao
fim.
«Nem no amor?»
Porém, a tarde traz consigo
o frio, a visão transparente dos montes, e até
o canto dos pássaros parece mais nítido, como se
nenhuma outra vibração o contaminasse. Respiro
contigo o conhecimento da realidade mesmo que ele
passe pela descoberta de outra vida, pelo contacto
entre duas solidões, ou apenas por uma breve
hesitação antes que os lábios se toquem
utro corpo e,por cima disso,
define os limites da razão e do sentimento
dedos para
dentro da própria alma

:: Vernissage dos Meus Blogues...

sabato

:: Anja frers...


:: Gosto...




Gosto das mulheres que envelhecem,


com a pressa das suas rugas,


os cabelos


caidos pelos ombros negros do vestido,


o olhar que se perde na tristeza


dos reposteiros.


Essas mulheres sentam-se


nos cantos das salas,


olham para fora,


para o átrio que não vejo,


de onde estou,


embora adivinhe aí a presença de


outras mulheres,


sentadas em bancos


de madeira, folheando revistas


baratas.


As mulheres que envelhecem


sentem que as olho,


que admiro os seus gestos


lentos, que amo o trabalho subterraneo


do tempo nos seus seios.


Por isso esperam


que o dia corra nesta sala sem luz,


evitam sair para a rua,


e dizem baixo,por vezes,


essa elegia que só os seus lábios


podem cantar


Nuno Judice

giovedì

:: É...




Dos 20 anos aos 30
Ela esperou apaixonadamente por um amante.
Dos 30 aos 40
Tentou diligentemente apanhar um.
Agora é conhecida
Como a virgem viva
Do Centro Nacional de Artes Dramáticas.

II
Ele consagrou a vida à defesa da liberdade.
Todos os que com ele trabalhavam
se ressentiam do seu feitio autoritário.

IX
Ela anunciava-se como pintora,
Incessantemente,
Até ficar conhecida
Pela alcunha de “Eu-sou-pintora”.
Agora que morreu
Enlutam-se os seus amantes,
Aqueles que ficaram em silêncio
Quando ela falava de arte.

X
Porque dizem tantos desses
Poetas de antologias gregas
Que é melhor não nascer
E nascendo, é melhor morrer cedo?

Eu discordo.
É melhor nascer,
E nascendo,
Escrever versos dizendo
Que é melhor não nascer.
Ter uma vida longa
E escrever versos dizendo
Que é melhor morrer cedo.
Porque se não nascemos,
Que podemos dizer?
E se morremos cedo,
Como aprendemos a dize-lo bem?

Nissim Ezekiel (1924-2004),


poeta, dramaturgo e critico de arte.


Judeu indiano nascido em Bombaim.